domingo, 1 de outubro de 2017

Jorge Silva Melo ou no melhor pano cai a gralha


A minha ligação ao Teatro não é de agora. Desde 1966, quando vim para Lisboa trabalhar no BPA da Rua do Ouro, estava muito perto do José Palla e Carmo e frequentei teatros os mais diversos. Vi peças de (entre outros) Luzia Maria Martins, Bernardo Santareno, Romeu Correia ou Bertolt Brecht, vi actores como (entre outros) João Perry, Vasco de Lima Couto, João d´Ávila, Jorge Silva Melo, Luís Miguel Cintra, Rogério Vieira, Luís Lucas, Paulo Renato, Laura Alves, José Viana, Raúl Solnado. Chega. Estiva na Sala Cinzenta do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas na encenação de «A excepção e e regra» com música de José Afonso. Brecht, claro, tal como em «O círculo de giz caucasiano» no Teatro Aberto da Praça de Espanha. Recordo também o «Casimiro e Carolina» e o «Não se paga, não se paga» de Dário Fo. E a Raquel Maria que, nesta memória, não pode ficar para trás. Num certo sentido vejo no Teatro a fragilidade e a força da Poesia. Um dia Maiakowsky terá escrito que «as palavras valem pouco, tanto como as pétalas pisadas depois de um baile» mas o problema é que precisamos de palavras para comunicar com os outros, seja na Poesia, no Teatro ou em qualquer aspecto mesmo comezinho da vida. Nisto das palavras o medo maior são as gralhas. Na Poesia como no Teatro. Acabo de receber o programa dos «Artistas Unidos» sobre a peça de Dimítris Dimitriádis «A vertigem dos animais antes do abate» e lá está na linha 6 do texto «récia» em vez de Grécia. Falta um «G» em caixa alta. Talvez por isso tenho saudades do tempo em que as coisas eram compostas a chumbo. Outro aspecto diz respeito às sessões «A voz dos poetas» que só referem o local (Rua da Escola Politécnica 135) mas não a hora. Como dizia o outro – pequenas coisas que não são coisas pequenas. Nota final – talvez o nome de Brecht não seja bem assim. 

(Vinte Linhas 1699)

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