O
Facebook tem destas coisas: li um texto teu mas perdi-lhe o rasto e apenas
posso recordar os tópicos. Falava da tirania, do abuso de poder, do fascismo,
da maldade. Falava da Turquia mas eu não me esqueço da Arménia porque passaram
apenas cem anos e cem anos é muito pouco, é o tempo entre o meu avô e o meu
neto. Escolhi uma foto de um funeral de crianças na Faixa de Gaza porque vem
mesmo a propósito. Há apenas homens a chorar a morte dos seus filhos inocentes.
As mulheres ficaram a chorar de outra maneira, depois de terem beijado os seus
mortos. Há aqui na Faixa de Gaza o outro lado do Gueto de Varsóvia e o que eu vejo
neste funeral de meninos lembra os mortos de Der Iassine em 1948. Trata-se da
operação «chumbo fundidio» idealizada numa cama de Hospital por Ariel Sharon. A
morte é sempre uma experiência limite, uma tragédia e nunca uma estatística.
Houve um Quisling na Finlândia, um major Hadad no estado fantoche entre o Sul
do Líbano e o Norte de Israel. Ambos foram executados a seu devido tempo. Sabra
e Shatila são massacres muito falados em 1982. Ainda hoje muita gente ao
recorda no Líbano e não só. Há poemas vários e outras memórias. Eu não esqueço.
Muito curioso é o facto de o teu texto referir a Turquia. Sabemos que a Arménia
era um país e passaram cem anos sobre o genocídio do seu povo. O senho Calouste
Gulbenkian veio para Portugal e aqui se sentiu bem. Todos em Portugal ficaram a
ganhar mas os arménios foram mortos como passarinhos e os rios encheram-se de
sangue perto de Erevan. «A vida não é nobre, nem boa nem sagrada» escreveu
Federico Garcia Lorca. A fotografia com o rumor das lágrimas e dos beijos
mostra um funeral na Faixa de Gaza e prova isso mesmo. Como diz um título de um
livro teu é tudo isto é a «Autópsia de um mar de ruínas».
(Vinte
Linhas 1696 - Fotografia de autor desconhecido)
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