domingo, 18 de fevereiro de 2018

«Filhos da Primavera Árabe» de Paulo Jorge Pereira


Paulo Jorge Pereira (n.1970) avança na Nota do Autor a razão de ser do livro: «Este livro é um grito pela defesa dos inocentes, erguendo a voz em nome dos indefesos para que se diga basta de violência e ganância» explicando a organização da narrativa: «A história que aqui se conta, ficção misturada com realidade, é um símbolo da desgraça e da desigualdade na Síria perante a complacência generalizada.» 
Por sua vez o prefácio de José Manuel Rosendo sintetiza o drama dos protagonistas: «Mekdad e Waffa simbolizam o medo e a esperança, a resistência e o sofrimento. Mostram-nos como algumas decisões são difíceis e como, mesmo perante a adversidade e a morte daqueles de quem gostamos até doer, mesmo assim, é preciso continuar a fazer o caminho»
O casal Mekdad/Waffa vive em Damasco uma vida calma: «Iam ao cinema e ao teatro. As suas conversas não tinham fronteiras. Discutiam livros e filmes, pintura e escultura, banda desenhada e política, música e moda, religião e desporto.» Entretanto surge no livro o «diário» de um jornalista que é uma espécie de contraponto da narrativa e talvez não por acaso surge em itálico. Pode ler-se nas suas páginas uma pergunta: «E como se classifica um líder a arrasar o próprio país e o seu povo para se perpetuar no poder? Um presidente que é médico, licenciado em Oftalmologia e que não podia ser mais cego aos Direitos Humanos.»
Um idoso afegão adverte Mekdad: «Bandos de assassinos semeiam o terror e dizem que é para proteger o povo, a democracia, a bandeira, os direitos e não sei mais o quê. Tudo mentira!»  Estas três linhas narrativas diferentes (os dois protagonistas, o diário do jornalista e as ideias do idoso afegão) são a espinha dorsal desta história. Tudo começa numa frase escrita em Março de 2011 na parede de uma escola («És o próximo, doutor!») a que o jornalista chama na página 69 «movimento de revolta pelas liberdades» mas países como a Tunísia, o Egipto, a Líbia e o Iémen vivem dentro de outros conceitos e as chamadas «liberdades» não são matéria prioritária para esses povos. Na página 99 Mekdad afirma: «Tínhamos um belo país com arte, ciência e cultura, quase três mil locais arqueológicos, profissionais qualificados, estudantes interessados e uma geração com futuro risonho. A guerra roubou-nos tudo.»
A única resposta só pode ser o Amor mas Mekdad adverte Anne já na Alemanha: «Não podes amar alguém que já morreu. Eu estou vivo mas morri na guerra. Todas as razões que tinha para viver desapareceram.»
Uma nota final: os anjinhos do Mediterrâneo já existiram em 1917 na Arménia, em 1948 em Der Iassine, em 1961 em Agadir ou nestes dias na Faixa de Gaza. Vão continuar a existir porque a guerra não acaba, faz parte da vida do Mundo.

(Um livro por semana 581: Editora EGO, Mapa: Tiago Leal, Prefácio: José Manuel Rosendo)

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