Paulo
Jorge Pereira (n.1970) avança na Nota do Autor a razão de ser do livro: «Este
livro é um grito pela defesa dos inocentes, erguendo a voz em nome dos
indefesos para que se diga basta de violência e ganância» explicando a
organização da narrativa: «A história que aqui se conta, ficção misturada com
realidade, é um símbolo da desgraça e da desigualdade na Síria perante a
complacência generalizada.»
Por
sua vez o prefácio de José Manuel Rosendo sintetiza o drama dos protagonistas:
«Mekdad e Waffa simbolizam o medo e a esperança, a resistência e o sofrimento.
Mostram-nos como algumas decisões são difíceis e como, mesmo perante a
adversidade e a morte daqueles de quem gostamos até doer, mesmo assim, é
preciso continuar a fazer o caminho»
O
casal Mekdad/Waffa vive em Damasco uma vida calma: «Iam ao cinema e ao teatro.
As suas conversas não tinham fronteiras. Discutiam livros e filmes, pintura e
escultura, banda desenhada e política, música e moda, religião e desporto.»
Entretanto surge no livro o «diário» de um jornalista que é uma espécie de
contraponto da narrativa e talvez não por acaso surge em itálico. Pode ler-se
nas suas páginas uma pergunta: «E como se classifica um líder a arrasar o
próprio país e o seu povo para se perpetuar no poder? Um presidente que é
médico, licenciado em Oftalmologia e que não podia ser mais cego aos Direitos
Humanos.»
Um
idoso afegão adverte Mekdad: «Bandos de assassinos semeiam o terror e dizem que
é para proteger o povo, a democracia, a bandeira, os direitos e não sei mais o
quê. Tudo mentira!» Estas três linhas narrativas
diferentes (os dois protagonistas, o diário do jornalista e as ideias do idoso
afegão) são a espinha dorsal desta história. Tudo começa numa frase escrita em
Março de 2011 na parede de uma escola («És o próximo, doutor!») a que o
jornalista chama na página 69 «movimento de revolta pelas liberdades» mas
países como a Tunísia, o Egipto, a Líbia e o Iémen vivem dentro de outros
conceitos e as chamadas «liberdades» não são matéria prioritária para esses
povos. Na página 99 Mekdad afirma: «Tínhamos um belo país com arte, ciência e cultura,
quase três mil locais arqueológicos, profissionais qualificados, estudantes
interessados e uma geração com futuro risonho. A guerra roubou-nos tudo.»
A
única resposta só pode ser o Amor mas Mekdad adverte Anne já na Alemanha: «Não
podes amar alguém que já morreu. Eu estou vivo mas morri na guerra. Todas as
razões que tinha para viver desapareceram.»
Uma
nota final: os anjinhos do Mediterrâneo já existiram em 1917 na Arménia, em
1948 em Der Iassine, em 1961 em Agadir ou nestes dias na Faixa de Gaza. Vão
continuar a existir porque a guerra não acaba, faz parte da vida do Mundo.
(Um
livro por semana 581: Editora EGO, Mapa:
Tiago Leal, Prefácio: José Manuel Rosendo)
Passando, lendo, gostando muito do seu blogue.
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* Aroma da papoila ... E a outra face do sentimento *
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Resto de dia feliz.