O
subtítulo deste livro com 310 páginas de Gonçalo Pereira Rosa (n.1975) explica
um pouco do conteúdo das 26 histórias que o integram: «e outras gaffes, triunfos e episódios memoráveis
do século XX na Imprensa Portuguesa». Embora o título do volume seja escolhido
a partir de um dos seus (digamos) capítulos assim como nos livros de contos,
esta escolha poderia ter recaído noutro. Não é fácil escolher.
Ao
todo são 26 os textos nos quais se conta parte da História do tempo português
do século XX. Grande parte dele passado no regime da Censura; veja-se o texto
de Jacinto Baptista na página 217: «Sei que por causa da Censura, pela tensão
que me causa durante o dia, a toda a hora, pelo acréscimo de trabalho com que
sobrecarrega as minhas funções de redactor-paginador, obrigando-me a desfazer e
refazer títulos, a desfazer e a refazer páginas – por causa da Censura estou à
beira de um colapso nervoso. E vou morrer mais cedo, arrasado, inconformado –
por causa da Censura.» Gonçalo Pereira Rosa recorda as palavras de Ribeiro dos
Santos sobre a Censura e a cumplicidade das Forças Armadas: «Como então se
dizia, as armas eram seis: infantaria, cavalaria, artilharia, engenharia,
aviação e censura».
Vitorino Nemésio definiu de modo certeiro o
jornalismo: «Ser jornalista é andar à roda do mundo num só pé. Há ali miséria,
efemeridade, glória e o pão que o Diabo amassou». Esse pão que o Diabo amassou,
como na história que dá título ao livro, pode ser uma sucessão de acasos: No
dia 2 de Outubro de 1960 o «Diário de Lisboa» publica a notícia necrológica do
coronel Rui Padrão Pessoa de Amorim, cujo primo era homónimo e subdirector da
PIDE. Ele reage desta maneira: «Mataram-me! Ainda por com com uma notícia de
merda na necrologia, ao lado de mortos da Rua dos Fanqueiros… Eu que salvei a
Pátria duas vezes do abismo…» Tudo termina numa nota do jornal que ninguém lê:
«Por lamentável erro de informação, noticiámos ontem o falecimento do distinto
oficial do exército (…) Quem faleceu foi o também distinto oficial do exército
com o mesmo nome.»
O
humor e a graça aparecem na página 304 num texto de Luís Alberto Ferreira quando
o director de «O Mundo Desportivo» foi ao Estádio do Bonfim entregar a Taça
Disciplina ao Vitória de Setúbal e o jantar ficou reduzido a uns amendoins e um
copo de três: «Chamei-lhe bola-de-berlim com bigodes! Foi um escândalo.»
Fica
uma pálida ideia destas 26 histórias de jornais e de jornalistas, um mundo
difícil como Baptista-Bastos adverte: «Nascer e morrer no mesmo dia pode ser
uma epopeia de gigantes mas é uma tarefa fatigante para os simples mortais».
(Editora: Planeta, Prefácio: Francisco
Pinto Balsemão, Revisão: Fernanda Fonseca)
(Um
livro por semana 560)
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