terça-feira, 15 de junho de 2021

«O intervalo entre o raio e o trovão» de Eduardo Jorge Duarte


Depois de «Montanário» (2017), de ver contos publicados no «Le Monde Diplomatique», no «Jornal de Monchique» e em «Uma coruja nas ruínas» (2018), Eduardo Jorge Duarte (n.1982) estreia-se na Poesia com este «O intervalo entre o raio e o trovão», título do primeiro poema do livro de 84 páginas: «Parecemos perdidos no mundo. /No intervalo entre o raio e o trovão. / Perplexos na tempestade, /Contamos cada segundo /Que vai da luz da solidão/Ao ruído da nossa humanidade. / E só após o estremeção /Lembramos que a vida/ É uma corrente de ar comprimida / Entre o estrondo e o clarão.» No poema da página 21 surge um outro olhar sobre a vida: «Trezentos e sessenta e cinco dias de velhice/ Inteiros, vividos em casas decimais. / O destino bateu-lhes à porta e disse /Que a dor, o amor e tudo o mais/ Que neles se cumprisse /Eram milagres fatais /Da meninice /A morrer de causas naturais.»

Um dos aspectos fascinantes neste livro de estreia é a lucidez como quando o Poeta fala consigo mesmo («Também morrerás, poeta, /Fica descansado») ou fala da pressa como inimiga da Poesia ( «Era qualquer coisa que nos acontecia /E para a qual não tínhamos uma definição /Nenhuma palavras lhe servia.») ou ainda sobre o acto de ler: «Não tenho pressa /O caminho é em frente /Uma casa não se começa /Pela telha mais recente /Como um verso delicado / É um modo alvoroçado /De dizer um sentimento urgente. /O meu trabalho é paciente /Percorro livros, tapo cada buraco /Deixado aberto pelo escritor. /A palavra é o meu fato-macaco: /Sou leitor.»

Numa simples nota fica o poema da página 28, um programa completo: «Deixa tocar o poema/Dá-lhe o tom e a voz que entenderes. /Se for coisa de saudades ou problema /De amigos ou de mulheres /Ouve-o, deixa-o falar sossegado /Até que o sentimento mais limpo se revele /E saibas então entrar na pele /Daquele que não vês do outro lado.»

Pata terminar o poema da página 57 que conclui: «Entre versos fúteis e opacos /Até um cego pode ver a voz de Deus.»

(Editora: On y va, Foto do autor: Luís Costa, Capa: Cristina Viana, Grafismo e paginação: João Paulo Fidalgo)

 [Um livro por semana 669]


Sem comentários:

Enviar um comentário