terça-feira, 2 de março de 2021

«Não vos torne a noite escura» de Vergílio Alberto Vieira

 


Vergílio Alberto Vieira (n.1950) escolheu para título deste seu recente livro de 51 páginas um verso da carta III de Francisco Sá de Miranda. Se lhe juntarmos a Bíblia, Hermann Broch, Hadrianus, Dante, Camões, Mário de Sá-Carneiro e Vergílio Ferreira, ficamos com uma ideia de como esta se trata de facto de uma poesia culta, grave e erudita que, ao mesmo tempo, «dialoga com Mallarmé e cita nomes mitológicos».

Adverte Cristina Robalo Cordeiro, autora do prólogo: «A sequência de trinta estrofes, dividida em duas partes iguais, pode ser igualmente lida como uma longa inscrição funerária, tal como o epitáfio composto por Hadrianus para o seu túmulo.»

Ou dito de outra maneira: junta a Vida, a Morte e a Poesia. Começa pela Vida («Elas são a mães/ filhas da morte que a dor/ em terra incógnita concebeu/ sopro de extinta luz/ na lâmpada de barro/ elas são as mães.» Passa também pela Morte: «Ninguém dirá /depois de tornar não voltaremos/ quando o mundo se perder/ desse buraco negro que além/ descobriu ser agora para sempre/ ainda não até ao fim.» Entre a Vida e a Morte, surge a Poesia: «Morreu cantando o amor/ perdido o que cem anos tinha/ antes do sonho trespassar/ a flecha e a colina o arco/ mil árvores morrem/ subindo ao céu.»

(Editora: Crescente Branco, Prólogo: Cristina Robalo Cordeiro, Desenhos e concepção gráfica: Armando Alves)

[Um livro por semana 662]

 

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