sábado, 18 de maio de 2019

«Fogo no mar» de João Falcato com uma capa de Victor Palla



Partindo de «O todo ou o seu nada» de Amadeu Lopes Sabino (Editora Bizâncio) cheguei a este livro é de 1953; conta a história da viagem do cargueiro «Mello» que uma explosão inexplicável consumiu em fogo nas águas sombrias do mar. O livro (Coimbra Editora) é dedicado à memória dos companheiros do autor que encontraram a morte no incêndio do cargueiro português a meio de uma viagem entre Buenos Aires e Lisboa: Álvaro Firmo da Silva, Alberto dos Santos Faria, Álvaro de Almeida Costa, Henrique Torcato Craveiro, Luís Alexandre Júnior, João da Silva Moreira, José Pereira, Herculano José, Joaquim Marques Machado, António Varela, José Simões, António Pais, Joaquim da Silva Pracana, José de Sousa Frade e José Fernandes d´Assunção. Há uma cantiga na página 28: «As ondas do mar são brancas / E no meio amarelas / Pobrezinho de quem nasce / Para morrer no meio delas» mas as primeiras linhas do romance são uma bela crónica de despedida: «Um primeiro puxão fez estremecer o «Mello», negro, sujo de carvão. Em movimentos descompassados, os rebocadores arrastam o corpo inerte e bojudo do navio, da beira do cais. Içada a escada do portaló, desligados os cabos que eram nervos que o faziam ser terra, prático na ponte, mansamente, em estremecimento de quem deseja maior pressa, o seu corpo é levado para o meio da doca. A ponte de Alcântara que fecha a saída, começa a girar numa permissão de passagem solicitada pelo som cavo do apito. Barcos pequenos saúdam com um zumbido quase imperceptível e seguem apressados o seu caminho na água suja da doca. AS chaminés dos rebocadores vomitam fumo negro, espesso, quase sólido. Sentado numa pedra do cais, um pescador solitário tira o chapéu encardido, num mudo desejo de boa viagem.» (fim de citação)           

[Crónicas do Tejo 163]

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