Jaime Murteira (1910-1986), pintor hoje
recordado, foi discípulo dos artistas Frederico Ayres e António Saúde. Recebeu
uma primeira medalha na SNBA, um prémio Silva Porto no SNI e um segundo prémio
no Salão da Beira Alta. Tem obra representada nos seguintes Museus: Arte
Contemporânea, Soares dos Reis, Ultramar, José Malhoa, Faro, Lagos, Vila Franca
de Xira, Guimarães e Figueira da Foz. O quadro aqui reproduzido tem por título
«Manhã no Ribatejo». Ora a dita «manhã» pode ter água e fogo como no poema de
Alexandre O´Neill (1924-1986) no livro «As horas já de números vestidas» de
1981. O título do poema é «Fogo posto»: «Estou no centro do país, rodeado de
incêndios. / Os pinheirais em fogo esbraseiam o ar. / Reguei o telhado e o
quintal porque as velhas são muitas / A vizinha cega, sem qualquer progresso,
vai tocando o seu órgão Tornado 4./ A irmã apanha velhas, mostra-mas na mão, /
apagadas ou parecendo ou quase / e fala do carteiro – motorizada aqui, saco
acolá, sapato mais além – que, presuntivo pirómano, a si mesmo se teria apagado
nas águas do Tejo.» (fim de citação) O poeta comentou mais tarde numa entrevista
a Clara Ferreira Alves (Jornal Expresso) deste modo: «Há um poema sobre
fogos-postos de que gosto muito, considero-o um dos mais bem acabados que
escrevi até hoje. E emociono-me ao relê-lo. Emociono-me por estar bem feito. Nota final – por uma questão de espaço não é
possível citar o poema no seu todo.
(Crónicas do Tejo 97 - Fotografia de autor desconhecido)
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