Rui
Almeida (n.1972) mantém desde 2003 o Blog «poesia distribuída na rua» e tem
publicado desde 2009 um conjunto de
livros: «Lábio cortado», «Caderno de Milfontes», «Leis da separação», «Temor
único imenso», «A solidão como um sentido seguido de Desespero» e «Muito,
menos». Poemas seus integram a antologia «Por la carretera de Sintra»,
organizada e traduzida por Marta López Vilar e publicada pela Editora La
Lucerna.
O
título deste recente livro de 42 páginas cujos poemas foram escritos entre 28
de Outubro e 1 de Dezembro de 2014, é retirado do poema da página 16: «A pedra
que foi coração / É agora corpo parado / Do esquecimento / Com a textura da
cinza. / Quando brilha seduz / Mas nunca se deixa encontrar, / Perde a força,
falha / Na ternura. A pedra / Não pode ser coração.»
Uma
das abordagens possíveis a este livro pode ser feita pelos números. A edição é
de cem exemplares. Tanto o poeta como o editor terão percebido que Portugal é
um país de analfabetos e quase ninguém lê poesia. Falar de Bocage pelas
anedotas, de Bulhão Pato pela gastronomia e de Camões pelo olho perdido em
combate é o que nos espera num país que não lê os seus poetas embora proclame,
numa abjecta «frase feita» que Portugal é um país de poetas.
O
ponto de partida pode ser o tempo: «Tudo quanto começa / Nunca acaba. Não é /
Da memória que falo, / Antes da sensação / Física de um coração / A bater
diante de ti». O ponto de chegada pode ser a alegria: «Quase eternos, vamos
seguindo a luz / Tomando na mão a firmeza da vida, rasto de memória / A
construir o fôlego da alegria.» Pelo meio fica a Poesia como lugar de dupla
inscrição entre Natureza e Cultura: «A poesia. A vontade de ternura, um /
Caderno onde encostar a cabeça.»
Editora: do lado esquerdo.
(Um
livro por semana 579)
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