António Ladeira (n.1969) vive
nos EUA desde 1993 e é autor editado no Brasil e na Colômbia, tem livros de
poesia e livros de contos em Portugal. Montanha
distante nasce dum encontro entre um motorista de táxi e um passageiro:
«Cada um de nós habita um mundo a que não faltam interlocutores reais ou
imaginários. Todos nós somos conversadores, tanto os gregários como os
solitários.» O condutor conta uma história ao passageiro: «Apesar de cobarde
fiz nessa mesma noite as malas e saí de casa dos meus pais. Tremendo de medo mas
com o palpite de que todo o sofrimento desapareceria num futuro não longínquo.»
A ligação entre o privado e o público num mundo de opressão política e de
escrutínio social está na página 10: «Há motoristas que o que ouvem por um
ouvido transmitem-no imediatamente ao próximo, assuntos da vida privada, até
questões políticas que nos podem pôr a todos em apuros. Não é o meu caso.» De
modo mais explícito lê-se na página 42: «os monitores de secção receiam o olhar
impiedoso do coordenador de nível, os coordenadores de nível temem o desagrado
do coordenador de Torre, os coordenadores de Torre têm medo da revista final do
director de Torre. O director de Torre receia a avaliação do Supervisor do
Círculo de Segurança do Líder.» Aspecto curioso do livro é o uso do humor; uma
trabalhadora do centro de Apoio Sexual afirma: «Shou boa ouvinte, shim, shôdona
Cudenadora mas também posho sher faladora, she o cliente ashim o deshejar!»
Fica uma ideia na página 134: «No relato do meu divórcio procurei notar nele
alguma reacção à minha incompatibilização com uma família tão fiel aos valores
patrióticos que nos regem a todos.» Na verdade o narrador é «um agente que quis
um dia ser taxista e que, por isso, se fez passar por aquilo que sonhou
ser.»
(Editora: On y va, Foto do autor: Cris Duncan, Foto de capa: Gabriel
Peter, Projecto gráfico: João Paulo Fidalgo)
[Livros e Autores 31]
Sem comentários:
Enviar um comentário