domingo, 15 de maio de 2022

«Pensamentos inconjuntos» de Nuno Ribeiro

Nuno Ribeiro é especialista no estudo do espólio de Fernando Pessoa, tendo publicado sob sua responsabilidade obras deste poeta e pensador na Europa, nos EUA e no Brasil. O seu trajecto nos estudos filosóficos começou em 2011 tendo continuado em 2016 e 2017 (cinco livros ao todo) e tal como refere Cláudia Souza no prefácio «os seus aforismos dialogam de alguma forma com a filosofia do primeiro romantismo alemão.» O autor segue a ideia da Revista Athenaeum («Um fragmento tem de ser como uma pequena obra de arte») e os seus aforismos dialogam com o pensamento de (entre outros) Pascal, Fernando Pessoa, Angelus Silesius, Shakespeare, Kant, Goethe, Beaudelaire, Ortega & Gasset e Miguel de Unamuno.   O ponto de partida está na página 17 («O problema da ciência é que não pensa; o problema da filosofia é que só pensa») continua na 18 («A ciência procura explicações para hipóteses que não justifica; a filosofia procura refutar as hipóteses da ciência por meio de explicações igualmente injustificadas») para concluir na 20: «Perante as hipóteses da ciência e as explicações da filosofia só nos resta dizer como Francisco Sanches e, presumivelmente antes dele, Arcesilau de Pitane: “nem mesmo sei se nada sei”» O precário das conclusões e explicações percebe-se na página 25: «Nada deve aumentar tanto o sentimento de sem-sentido de todas as nossas explicações como verificar que afirmamos num dia aquilo que podemos negar no outro.» Entre a Arte e a Filosofia fica a força do aforismo: «A diferença entre arte e filosofis reside nisto: a arte não exige a verdade daquilo que constrói, enquanto a filosofia exige a verdade mesmo quando desconstrói.» E fica a definição de fragmento: «O fragmento funciona como um simulacro: remete para uma totalidade que não sabemos sequer se existe ou se se pretende que exista.» Conclusão prematura mas possível: «Talvez a salvação esteja na aceitação e fruição possível daquilo que os deuses têm para nos dar, quer existam, quer não.»  

(Edição: Subterrânea – Colectivo Literário, Prefácio: Cláudia Souza)

 [Um livro por semana 686]


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