Em 1923 Jorge Luís Borges (1899-1986), argentino com origens familiares portuguesas em Moncorvo, publicou o livro de poemas Fervor de Buenos Aires. Em 2021, quase cem anos depois, António Manuel Venda (n.1968) publica este livro de poemas com o título de Barcelona. Além dos títulos com referências a nomes de cidades pouca coisa aproxima os dois volumes: o primeiro é uma viagem sentimental pelas ruas de Buenos Aires, o segundo é uma viagem pelos sonhos e pelas memórias do autor. Os vinte e cinco poemas que integram este livro são um transporte entre o sonho do futuro e a memória do passado. Uma ideia da viagem está inscrita no primeiro poema: «eu/olhando para o céu azul/um céu tão cheio/tão cheio mesmo/de estradas brancas/perguntei-me/baixinho/quase como/se não tivesse voz/em qual dos pássaros/pequeninos de metal/poderia estar/então/se tivesse decidido/precisamente/nesse dia/viajar para barcelona» Um conceito de futuro lê-se na página 68: «o que interessava/era marcar uma data/para a reunião/agrupar as hostes/e avançar com a coisa/ou melhor/com as coisas/as grandes coisas/para ver se/de uma vez por todas/ resolviam o problema/do concelho/se voltavam/a pô-lo no mapa/se é que alguma vez/algum mapa/já tinha referido/o concelho/entenda-se»Um retrato do passado regista-se na página 13: «teria de recuar/até à adolescência/para te encontrar de novo/teria de fazer/ todo o percurso/desde o sul/no autocarro/que arranjaram/para a escola» Volta o passado na página 59: «éramos tão jovens/ naquela altura/há tanto tempo/o teu país/ainda não estava/na união europeia/aliás/ainda não se chamava/união europeia/embora estivesse quase/a chamar-se» Se o sonho é uma viagem, a viagem pode ser um sonho: «e eu/quando durmo/sabendo desta história/quando verdadeiramente/durmo/por vezes /sonho tambérm /e em cada sonho/viajo para um país/distante do lugar/onde terei nascido.»
(Editora: On y va, Foto: Dora
Nogueira, Grafismo: João Paulo Fidalgo)
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