Gabriela
Ruivo Trindade (n.1970) venceu o Prémio LeYa em 2013 com «Uma outra voz»,
seguindo-se o conto infantil «A vaca Leitora» de 2016. «Aves migratórias»,
livro de 63 páginas, é a sua estreia no campo da Poesia e é constituído por
seis andamentos: Aves migratórias, Animais marinhos, Orfandade, Sem rosto nem
fim, Silêncio e Transpiração.
A
invocação de Sebastião da Gama («Pelo sonho é que vamos,/comovidos e mudos»)
lembra a semelhança entre a viagem e a oração: ligar dois pontos diferentes ou
dois mundos separados. Vejamos o poema da página 17 que abre o livro: «o meu
coração migrou para outro peito /parece contente / no vazio que deixou cabem
lezírias /horas brancas / neblinas» e vejamos o poema da página 63 que fecha o
livro: «Era uma mulher de palavra. As palavras nasciam-lhe nos braços e
derramavam-se pelas mãos abertas. Fugiam-lhe entre os dedos. Era uma mulher de
palavra e ficava sem palavras. A voz perdia-se nos labirintos dos argumentos e
emudecia nos becos sem luz das trocas azedas de palavras; palavras gastas à
bruta e à pressa, mal nascidas, cuspidas, vomitadas, violadas; a ela, uma
mulher de palavra, a voz atraiçoada. Quando cantava abria o peito aos pássaros
e esquecia as palavras.»
Embora
agradeça aos Poetas da sua vida («A minha vénia e o meu muito obrigada») como
José Gomes Ferreira, Manuel da Fonseca e Sebastião da Gama (entre outros) os
filhos da autora entram no livro com dois epigramas: «Nunca fica de noite
dentro da cabeça de alguém» (David, 7 anos) e «O fogo apaga a água: é quando o
sol faz a água ir para as nuvens» (Diogo, 4 anos). Sem esquecer a advertência
antes da leitura: «O amor é o mais perto que podemos estar do infinito.»
(Editora:
On y va, Capa: Sónia Queimado-Lima, Grafismo: João paulo Fidalgo, Foto: Emanuel
Ferreira)
[Um livro por semana 644]