segunda-feira, 9 de setembro de 2019

«Noticia historica e topographica da villa de Alcanede» de Simão Froes de Lemos



José Raimundo Noras (m.1980) transcreve, apresenta e anota este texto clássico de Simão Froes de Lemos (1675-1759) escrito em 1726. O ponto de partida do historiador é «transcrever e fixar o texto de Simão Froes de Lemos, dando informações essenciais para uma boa compreensão desse trabalho (…) mantemos a grafia do texto original por considerarmos, para além da norma adoptada, que a mesma não prejudica a boa leitura da crónica.» O texto de Simão Froes de Lemos já tinha sido várias vezes referido por Mário Rui Silvestre, autor pioneiro na divulgação dos três manuscritos (Évora, Lisboa, Santarém) a mais recente das quais terá sido em 2014 no livro «Poemas do Centenário». Embora se registe que o texto de 1726 segue o modelo da descrição corográfica do Padre Luís Cardoso não será errado considerá-lo também um percursor das «Memórias paroquiais de 1758».
Segundo o responsável por esta edição «A Noticia Historica foi dividida em duas partes: a primeira focada em Alcanede e a segunda em Pernes. O documento oferece informações importantes para vários campos de estudo: história local, etnologia, estudos das religiões, arquitetura, geografia humana, toponímia, história das mentalidades bem como estudos de género.» Um dado muito curioso neste texto é o primeiro registo escrito das grutas de Mira de Aire na página 209: «Na serra de Ayre ou serra de Minde como alguns lhe chamam, no termo de Porto de Mós está o lugar de Minde e ao Noroeste delle está hum campo que tem de comprimento meya  legoa e de largo hum quarto de legoa pouco mais ou menos no fim deste campo para a parte do Noroeste está huma gruta que terá de comprido tanto como a Igreja da Misericórdia de Lisboa ao rocio da mesma cidade, pela qual entra um homem e anda por ella sempre em pé e à vontade e por baixo e por sima paresse tudo hua só pedra porque são abodadas da mesma penha; depois de andar a metade do caminho, se acha hua subida pequena que se a fizessem escada poderia ter dez o doze degraus; passada esta subida se desce por área tanto como se tem subido e depois ainda se continau a descer mas he por pedras; e assim se vai andando e descendo ate que se chega a hum portal feito pela natureza em forma que parecese feito por maos de officiaes.»

(Edição: Centro do Investigação Professor Doutor Joaquim Veríssimo Serrão, Apoios: Município de Santarém, Juntas de Freguesia de Abrã, Alcanede, Amiais de Baixo, Arneiro das Milhariças, Malhou, Louriceira, Espinheiro, Minde, Pernes e São Sebastião – Rio Maior)

[Um livro por semana 627]

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