terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

«Avós: Raízes e Nós» de Aida Baptista, Ilda Januário e Manuela Marujo (org.)


O livro integra 61 narrativas (58 em Português e 3 em Inglês) que recordam a forma como os avós  marcaram a vida dos autores: Aida Baptista, Aida Jordão, Alexandra Silva, Alzira Silva, Ana Roque Oliveira, António Galopim de Carvalho, António Luís Cotrim, António Matias Coelho, Artur Goulart, Berta Bustorf, Carla Palma Fernandes, Carmen Carvalho, César da Silva, Chrys Chrystello, Dinis Borges, Eliane Veras da Veiga, Emanuel Melo, Emílio Boschilia, Fernando Nunes, Graça Castanho, Humberta Araújo, Humberto da Silva, Ilda Januário, Inez Marques, Irene Marques, Isabel Nery, Isabel Sebastião, João Vicente Faustino, Joaquim Pires, José Manuel Esteves, José Manuel Pyrrait, José Martinho Gaspar, Katharine Baker, Lélia Nunes, Luciana Graça, Luís Gonçalves, Luísa Maria Desmet, Madalena Balça, Manuel Aguiar, Manuela Barros, Manuela Marujo, Marcos Pinheiro, Margarida Estrela Ferreira, Maria da Conceição Nunes, Maria João Ruivo, Maria Zilene Cardoso, Martinho Silva, Michael do Carmo Baptista, Miguel Borges, Milai Sousa, Nereu Vale Pereira, Paulo da Costa, Pedro Paulo Câmara, Roseli Boschilia, Sandra Paula Barradas, Sérgio Ferreira, Teresa Roque e Urbano Bettencourt.  Três notas como convite à leitura. Na página 26 António Matias Coelho (Salvaterra de Magos, 1957) recorda a Avó Nunes: «A escola primária que eu frequentavaa situava-se a menos de cem metros da casa dela, do outro lado da estrada de terra. Como na escola não havia água, a professora e os miúdos iam bebê-la a casa da minha avó que se sentia rica por isso.» José Martinho Gaspar (Água das Casas, 1967) lembra o avô Vicente: «a vida no campo era de um pobreza profunda, em que andar descalço e uma sardinha para três era mesmo uma realidade.» Miguel Borges (Abrantes, 1965) lembra o avô Borges: «No meio da tanta gente só uma mão me segurava, de corpo e alma, ocupando o lugar de um pai ausente por culpa do «senhor da ponte», num suposto interesse da Pátria.» Um livro a não perder.

(Editora: Almaletra, Design e Paginação: Nuno Almeida, Tradução: Ilda Januário, Capa: Isabela Kowalska-Wieczorck)      

 [Livros e Autores 07]

 

sábado, 18 de fevereiro de 2023

«Os pássaros cantam em grego» de Rita Ferro

 


Depois de «Veneza pode esperar» (2014) e «Só se vive uma vez» (2015) Rita Ferro (n.1955) regressa ao mesmo registo. No caso concreto trata-se de um «diário» iniciado em 16-1-2019 e concluído em 30 de Dezembro de 2019 com a particularidade de todas as entradas começarem com a palavra «Ribatejo» embora Rita Ferro viva em Foros de Salvaterra. O título do volume está na página 77 que cita o «Diário» de Virgínia Woolf e o «lugar onde» está assim definido: «As pessoas entram e saem, umas vindas de Lisboa, outras, daqui mesmo e tem sido um arraial permanente, facto que nunca previ.» A autora exibe uma enorme lucidez sobre viver cada um em sua casa: «quanto mais idade vamos tendo mais difícil se torna a coabitação». O passado está presente («Nasci assim, destemida e imprudente») e mistura-se á memória na reflexão («Eu era orgulhosa, desafiadora, inconformada e destemperada») que se segue: «Fiz 64 anos mas pouco tenho a dizer sobre a matéria. As pessoas partem da noção ingénua de que a aparência é a verdade mas a verdade é que, para mim, tenho sempre 18 anos.» Entre o passado e o presente ficam as mudanças: «Estive a contar: são mais de quinze as mudanças que já fiz, desde que saí de casa dos meus pais. Gosto de me mudar e de começar de novo, noutro cenário». Na página 16 surge a referência ao local: «Aproveitando a alta do mercado, vendi o apartamento e comprei bem esta casa, a cinquenta quilómetros de Lisboa, em pleno Ribatejo. Mudei-me no dia 11 de Dezembro de 2018 e já passei aqui o Natal.» Claro que nem tudo são rosas: «as amplitudes térmicas daqui são as de Santarém: geladas no Inverno e sufocantes no Verão.» Uma última nota para a página 61 quando Rita Ferro comenta a ascensão social dos antigos criados: «no tempo do Botas este tipo de ultrapassagem popular seria impensável».

(Editora: Dom Quixote, Capa: Maria Manuel Lacerda, Foto da autora: José Cardigos Bastos, Foto da capa: Matthew Henry, Edição: Cecília Andrade, Revisão: Clara Boléo) 

 [Livros e Autores 06]