segunda-feira, 18 de setembro de 2023

«Bernardo Santareno – da nascente até ao mar» de José Miguel Noras


José Miguel Noras (n.1956) está já a trabalhar num novo volume («Santareno do mar ao fim do mundo») pois a vida de Bernardo Santareno (1920-1980) não podia caber num livro de 389 páginas mais 48 de fotografias a cores sobre o seu percurso escolar, académico, cultural, cívico, literário e artístico. As fotografias constituem uma excelente «fotobiografia» com fotos únicas e legendas com valor acrescentado. O resumo da sua vida está na página 39: «Infância traumatizada. Adolescência dolorosa. Filho único. Liceu em Santarém. Solidão. Faculdade em Lisboa. Crise mística profunda. Interrupção dos estudos. Faculdade em Coimbra. Melhor, menos solidão. E poemas. Quando tive dinheiro para editá-los, editei-os. Poemas maus. Um primeiro livro de Teatro, já formado em Medicina: «A promessa, O Bailarino, A excomungada» Edição do autor, paga com o que ia ganhando como médico da frota bacalhoeira.» Sobre a vida no mar lê-se na página 301: «Queria de todo o coração ser útil a esta gente, os pescadores, pois eles são bons, humildes, e extraordinários de coragem e trabalho.» Sobre si Bernardo Santareno afirma: «Um indivíduo como eu, é claro, tem de sofrer mais que os outros pois sente mais fundo, todos os inevitáveis achaques do mundo. Mas é a vida.» Na página 251 outra afirmação: «A única coisa de que gosto é de escrever. Todas as outras actividades me conduzem a essa, que é fundamental para mim. Escrevo em qualquer lado e tudo o que me rodeia me é totalmente indiferente quando estou a escrever.» Em 1956 afirma ao pai: «Nada é firme nem seguro nesta vida. Não fazemos outra coisa que não seja experimentar caminhos, nunca chegaremos a um fim. É preciso muita coragem para se viver, sobretudo num país como o nosso, neste tempo e quando não se é de todo estúpido e inculto.» Fica o convite à leitura. Um livro grande que é também um grande livro.

(Editora: Âncora, Capa: Sofia Travassos, Revisão: António Carmo, Carlos Oliveira e Rejane Wilke. Nota de abertura: António Ramalho Eanes, Prefácio: João Luís Madeira Lopes, Posfácio: Joaquim Martinho da Silva, Apoio: Municípios de Santarém, Alcanena, Almeirim, Alpiarça, Golegã, Lamego, Nazaré e Tomar, Instituto Politécnico de Santarém e Associação Industrial Portuguesa)              

[Livros e Autores 13]