sexta-feira, 5 de maio de 2017

Cristiano Ronaldo - um triunfo no lamaçal



O dia 17 de Outubro de 1999 amanheceu com um céu de chumbo. O jogo foi em Pina Manique às onze da manhã entre o Casa Pia e o SCP. Era um Domingo. Chovia e ao mesmo tempo estava frio, muito frio. A assistência era muito reduzida. Não havia público; apenas os pais e os avós de alguns jogadores. Havia poucos guarda-chuvas à volta do pelado. Ainda na primeira parte, mais precisamente aos 30 minutos, o árbitro parou o jogo e chamou o massagista de uma das equipas, o SCP. O jogador nº 10 foi substituído pelo jogador nº 15. Na altura ninguém percebeu muito bem pois não é muito normal um árbitro sugerir a substituição de um jogador mas soube-se no fim do encontro, debaixo de mais uma forte bátega de água, que o jogador nº 10 tinha a pulsação a 220. A crónica do jogo publicada no jornal «Sporting» refere uma taquicardia. O coração de Cristiano Ronaldo tinha disparado e ele poderia ter tido um problema grave de saúde se o árbitro não tivesse tido a sensibilidade para interromper o jogo dizendo ao massagista Fontinha que o jogador não estava bem. No meio da chuva, no meio do frio, no meio do calor da luta entre o 3º classificado e o 11º da tabela do Campeonato de Iniciados, houve um árbitro que se apercebeu de que o coração do nº 10 já não cabia dentro do peito. Não sei se ele é enfermeiro ou se é bombeiro ou se é apenas um anjo do céu disfarçado de árbitro de futebol. Sei que esse jogador nº 10 lhe deve a vida e a carreira que entretanto teve a sua progressão sempre de fulgor em fulgor. Sei que cada golo decisivo que esse jogador nº 10 marca hoje com o nº 7 em Maio de 2017, quase 18 anos depois desse jogo em que teve de sair aos 30 minutos, é ao árbitro atento que o deve. Mais do que o triunfo por 5-0 no lamaçal, aquele dia ficou marcado com um triunfo contra as emboscadas da morte. 

(Vinte Linhas 1687 - Fotografia de autor desconhecido)

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