Giacomo
Leopardi (1798-1837) é um poeta italiano cujo trabalho teve traduções de nomes
como Agostinho da Silva, Albano Martins, Margarida Periquito e Miguel Serras
Pereira. Na linha de La Bruyére, Montaigne ou La Rochefoucauld, este volume de
165 páginas integra 111 pensamentos no que em termos simples podemos considerar
«moralismo». Vejamos a página 11: «Digo que o mundo é uma liga de malandros
contra os homens de bem, de vis contra os generosos.» Na mesma linha se pode
ler na página 149: «O homem é quase sempre tão malvado quanto lhe convém.» E na
mesma página esta ideia: «É curioso observar que quase todos os homens de muito
valor são simples de maneiras e que quase sempre as maneiras simples são
tomadas por um indício de pouco valor.»
Na
página 91 se lê: «Diz La Bruyére uma grande verdade: que é mais fácil um livro
medíocre ganhar fama em virtude de uma reputação já adquirida pelo autor do que
um autor ganhar reputação por meio de um livro excelente.» E na página 19 «o
costume do século é imprimir-se muito e nada se ler.» Sobre o temor da morte e
o desejo de velhice lê-se na página 23: «A morte não é um mal porque liberta o
homem de todos os males e juntamente com os bens lhe tira os desejos. A velhice
é um mal supremo porque priva o homem de todos os prazeres deixando-lhe porém
os apetites e trazendo consigo todas as dores.»
Sobre
o quotidiano esta ideia: «Um dos graves erros em que incorrem diariamente os
homens é o se acreditarem que os outros guardem segredo.» E outra sobre penas e
honras: «Tal como as cadeias e as galés estão cheias de pessoas que se declaram
absolutamente inocentes, também os cargos públicos e as honrarias de toda a
espécie não são exercidas senão por pessoas chamadas para tal e mau grado
obrigadas a fazê-lo.»
Sobre
ler e escrever uma curiosa opinião: «hoje que todos escrevem e que não há nada
mais difícil do que encontrar quem não seja autor, tornou-se um flagelo o vício
de ler ou declamar aos outros as próprias composições.» Sobre a felicidade
humana lê-se na página 55: «Os homens são infelizes por necessidade e resolutos
a julgarem-se infelizes por acidente.» Sobre o tédio está na página 97: «O
tédio é, de alguma forma, o mais sublime dos sentimentos.»
Fiquemos
por aqui: «Quem nunca saiu de lugares pequenos onde reinam pequenas ambições e
avareza vulgar com um ódio intenso de cada um contra cada qual, toma por fábula
os grandes vícios bem como as virtudes sociais sólidas e sinceras. Julga a
amizade coisa pertencente aos poemas e às histórias, não à vida. E engana-se.»
(Edições
do Saguão, Tradução: Andrea Ragusa e Ana Cláudia Santos, Ensaio: Rolando Damiani,
Capa: Desenho de Miguel Ferreira, Paginação e capa: Rui Miguel Ribeiro,
Revisão: Mariana Pinto dos Santos e Rui Miguel Ribeiro)
[Um livro por semana 683]
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