Adalberto
Alves (n.1939) celebra 40 anos de vida literária com este livro de 94 páginas
cujo título vem do poema da página 81: «Os dedos trans-lúcidos do escrevinhador
/saberão do poema aquilo que o peixe/ sabe da água em que vai nadando? /ah, mas
o peixe ignora tanto a água /como eu o ar transparente que respiro.» Um dos
temas inevitáveis é o Balanço: «Não sei o que é mais doloroso/se o veleiro das
palavras desgastadas/se o pulsar desgastante do silêncio…» Outro tema óbvio é o
da Vida: «sobre o coração eu tenho um nome/com letras, pesponto do mistério/é
nome que os homens difamaram / com perfídias geladas e sombrias / a cada batida
certa e compassada /tal nome repetido num sussurro /mal posso ouvi-lo; não
consigo encostar o meu ouvido ao peito /mas esse nome, eu sei, é VIDA.»
O
poeta, ele mesmo, inscreve-se no poema («Fui a todas nunca me poupei /àquilo
que a vida me ofereceu») tal como já se tinha inscrito n página 17 («alguém me
perguntou quem és ? /respondi: não sei dizer ao certo») e na página 53: «”ao mundo
uma carta escrevo” / a carta que ninguém leu /fala de pena e de enlevo/e essa
carta sou eu.» A ironia também está presente no poema da página 28: «… uma
gorda ratazana /e acabou num cano de esgoto/apesar de nunca se enganar/e
raramente ter dúvidas.»
A
única possível resposta à Morte é o Amor («Imaculado e santo seja o Amor») como
se lê na página 19: «o alfabeto do Amor é bem curto/ mas serve p´ra dizer o que
se queira».
Entre
o precário da Vida e o frágil do Amor, só a Natureza continua: «a Natureza jamais
pára: fervilha, fervilha e desemboca /cumprindo o plano estabelecido, /nem que
seja como surda ou cega ou muda, /no alto dos ares ou no fundo dos mares.»
(Editora:
Labirinto, Paginação: Marta Toscano, Prefácio: Ronaldo Cagiano, Capa: Daniel
Gonçalves, Coordenação: Víctor Oliveira Mateus e Maria João Cabrita)
[Um
livro por semana 675]
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