Nuno
Costa Santos (n.1974) junta neste livro de 39 páginas poemas com origem na
Rádio, no Teatro e nas Revistas de Poesia. Autor diversificado (romance,
crónica, aforismo, poesia) Nuno Costa Santos retira o título do volume da
página 39: «Vem de mãos vazias /como todo o homem antes da morte. /Morrer é não
ter nada nas mãos.» A morte está de novo presente na página 33: «Morreu o meu
tio-avô emigrado no Canadá há muitas décadas. /Trabalhou em fábricas e morou
numa rua /que se tornou o seu novo país. /Recebemos um telefonema de
Mississauga à/ hora do almoço de uma quinta-feira. /Estava ao pé da minha avó
quando /atendeu a chamada da tia Lurdes. /”Antes de morrer chamou pela mãe”
ouvi a/ minha avó repetir o que ouviu do outro lado. /Todo o homem chama pela
mãe na hora da /morte. Mesmo que à vezes não se ouça.» Oscilam estes poemas
entre a Morte e a Vida: «Das maiores experiências de solidão: /chegar ao
aeroporto e não ser recebido por ninguém.»
Entre
a solidão e a alegria, o poema pode ser também um sorriso: «É hoje difícil estar
calado /Estar calado é morrer /O desejo é ser amado /Tenho um comentário a
fazer /Em cada esquina, um assunto /em cada link, um viral /Seja ele uma sande
de presunto /ou o excelso mapa astral.» Mas numa sociedade competitiva o lugar
da Poesia é sempre secundário: «Não há lugar para estacionar o poema/ Sucumbiu
ao rodoviário sistema /É em Lisboa mas podia ser em Manila / O poema vai ficar
em segunda fila.»
Para
este autor o fundamental é a Vida: «Fundamental é termos quem nosso coloque a
mão na / testa quando vomitamos, de olhos fechados. /Tudo o resto é uma ida à
Loja do Cidadão.» Fundamental é também a Poesia: «Se a poesia não diz a vida é
um exercício que se dissolve, uma bola de sabão que rebenta no ar, um dito vago
para dizer nos saraus e impressionar pelo jogo vazio de palavras. /É um
berloque poético. /Não quero isso.»
(Edição:
Companhia das Ilhas – Sara Santos, Carlos Alberto Machado, Imagem: Jorge Aguiar
Oliveira, Capa: Rui Belo, Colaboração: Sara Leal)
[Um
livro por semana 661]
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