quinta-feira, 21 de maio de 2020

«Aves migratórias» de Gabriela Ruivo Trindade



Gabriela Ruivo Trindade (n.1970) venceu o Prémio LeYa em 2013 com «Uma outra voz», seguindo-se o conto infantil «A vaca Leitora» de 2016. «Aves migratórias», livro de 63 páginas, é a sua estreia no campo da Poesia e é constituído por seis andamentos: Aves migratórias, Animais marinhos, Orfandade, Sem rosto nem fim, Silêncio e Transpiração.
A invocação de Sebastião da Gama («Pelo sonho é que vamos,/comovidos e mudos») lembra a semelhança entre a viagem e a oração: ligar dois pontos diferentes ou dois mundos separados. Vejamos o poema da página 17 que abre o livro: «o meu coração migrou para outro peito /parece contente / no vazio que deixou cabem lezírias /horas brancas / neblinas» e vejamos o poema da página 63 que fecha o livro: «Era uma mulher de palavra. As palavras nasciam-lhe nos braços e derramavam-se pelas mãos abertas. Fugiam-lhe entre os dedos. Era uma mulher de palavra e ficava sem palavras. A voz perdia-se nos labirintos dos argumentos e emudecia nos becos sem luz das trocas azedas de palavras; palavras gastas à bruta e à pressa, mal nascidas, cuspidas, vomitadas, violadas; a ela, uma mulher de palavra, a voz atraiçoada. Quando cantava abria o peito aos pássaros e esquecia as palavras.»
Embora agradeça aos Poetas da sua vida («A minha vénia e o meu muito obrigada») como José Gomes Ferreira, Manuel da Fonseca e Sebastião da Gama (entre outros) os filhos da autora entram no livro com dois epigramas: «Nunca fica de noite dentro da cabeça de alguém» (David, 7 anos) e «O fogo apaga a água: é quando o sol faz a água ir para as nuvens» (Diogo, 4 anos). Sem esquecer a advertência antes da leitura: «O amor é o mais perto que podemos estar do infinito.» 
 
(Editora: On y va, Capa: Sónia Queimado-Lima, Grafismo: João paulo Fidalgo, Foto: Emanuel Ferreira)

 [Um livro por semana 644]

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