quinta-feira, 18 de abril de 2019

«São feitas de palavras as palavras» de Carlos Nogueira



Carlos Nogueira adverte logo na página 7 deste livro de «Ensaios de literatura portuguesa»: «Nem as palavras são suficientes para dizer o mundo nem nenhum ensaio literário é capaz de falar satisfatoriamente sobre um poema, um romance, um texto literário.» Num certo sentido esta situação (adversativa…) poderia levar o autor deste texto em forma de notícia/resenha a concluir pela impossibilidade de resumir um livro de 407 páginas em 25 linhas. Mas não.
Comecemos pelo princípio. Afirma o autor o seguinte: «De que se trata neste volume é de ler textos literários, de investigar a pluralidade dos seus códigos, a multiplicidade e a infinitude dos seus significantes e das suas relações de significado.»
Aqui se estuda uma parte significativa da Poesia Portuguesa dos séculos XIX e XX: Nicolau Tolentino, João Penha, Guerra Junqueiro, Gomes Leal, Álvaro de Campos, Jorge de Sena, Alexandre O´Neill ,Liberto Cruz, Manuel António Pina e Daniel Faria. No que diz respeito à Ficção os ensaios dizem respeito a obras de Camilo Castelo Branco, Raul Brandão, Aquilino Ribeiro, José Saramago, J. Rentes de Carvalho, Afonso Cruz e Valter Hugo Mãe.
As últimas doze linhas da Introdução do autor acabam por ser também uma reflexão geral sobre o acto de escrever e são exemplares daquilo que este livro proporciona ao leitor: «Escrevemos para preencher vazios, indecisões, medos, desconhecimentos, para suprir o muito que nos falta. É na experiência dessa falta que a palavra literária nasce, mas a nova palavra logo é perturbada pela carência que a origina e, por isso, uma nova palavra ocupa o lugar da anterior Este processo não tem fim, nem na literatura nem na crítica literária. Nem uma nem a outra nos dão a plenitude que buscamos. Em vez disso, põem-nos perante os motivos, os desejos, os sentidos e os mistérios da nossa vida individual e social. Muitas das ausência que nos afectam mas também algumas das expressões triunfantes do que eu entendo que é e deve ser o universo do humano, encontra-se nos ensaios deste livro que é a utopia de um outro livro que eu não soube escrever.» Fica o veemente convite à leitura: este é um livro a não perder, sem dúvida. Quem o lê fica a ganhar sobre o que era antes.

(Editora: Edições Lusitânia, Capa: Andreia Dias)

[Um livro por semana 616]

Sem comentários:

Enviar um comentário