sexta-feira, 4 de maio de 2018

Correio do Ribatejo 127 anos depois



O jornalista como historiador do quotidiano

Quando comecei a escrever nos jornais (1978) Jacinto Baptista afirmava no «Diário Popular» - «o jornalista é o historiador do quotidiano». Ora o quotidiano português em 9-4-1891 (já lá vão 127 anos) era dominado pelo Ultimato Britânico de 1890 e pelo movimento patriótico que se levantou contra aos ingleses. O patriotismo era comum a toda as classes sociais. Basta lembrar que as comemorações camonianas de 1880 foram financiadas pelo Conde de Burnay, que o Duque de Palmela devolveu as suas condecorações trazidas de Londres ao embaixador inglês em Lisboa e que a Duquesa de Palmela organizou uma «sopa dos pobres» em Lisboa. Associações, Clubes e Filarmónicas ganhavam expressão. Mas não era só Luís de Camões que se comemorava: o 24 de Julho (de 1833) marca a chegada a Lisboa das tropas liberais, o 1º de Dezembro (de 1640) marca a recuperação da independência nacional e sem esquecer a romagem anual ao túmulo de Joaquim António de Aguiar (1793-1871) conhecido como o «Mata Fardes». O Governo inglês sonhava com um corredor continental em África do Cairo ao Cabo mas o chamado Mapa Cor-de-Rosa propunha que Portugal ocupasse o vasto território entre Angola e Moçambique. Em 11-1-1890 o embaixador britânico em Lisboa exigiu a retirada imediata das forças militares portuguesas estacionadas no Noroeste de Moçambique (Chire e Machona) e ameaçando com o uso da força caso o nosso país não aceitasse a exigência até às 10 horas da noite do dia 11-1-1890. O Governo português reúne-se de emergência com o Conselho de Estado e salvo duas excepções, todos os membros do Governo e do Conselho de Estado aceitam a imposição britânica. Claro que a 14-1-1890 o Governo demitiu-se e o novo Governo (regenerador) aceitou o Ultimato. O resto está nos livros, é História. Mas o «Correio do Ribatejo» que hoje, continua o que começou há 127 anos como «Correio da Extremadura», é também, História. O passado dá a todos nós que o fazemos hoje um orgulho, uma vontade e uma força enormes, o futuro é um horizonte de muitas coisas possíveis. O presente é esse intervalo feliz entre o passado e o futuro, espaço no qual o sonho dos pioneiros de 1891 continua activo e desafiador: contar às pessoas as suas próprias histórias, fazer da cada novo jornal um ponto de encontro, ser o historiador do quotidiano de todos nós.


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