terça-feira, 9 de janeiro de 2018

«A pedra não pode ser coração» de Rui Almeida


Rui Almeida (n.1972) mantém desde 2003 o Blog «poesia distribuída na rua» e tem publicado  desde 2009 um conjunto de livros: «Lábio cortado», «Caderno de Milfontes», «Leis da separação», «Temor único imenso», «A solidão como um sentido seguido de Desespero» e «Muito, menos». Poemas seus integram a antologia «Por la carretera de Sintra», organizada e traduzida por Marta López Vilar e publicada pela Editora La Lucerna.
O título deste recente livro de 42 páginas cujos poemas foram escritos entre 28 de Outubro e 1 de Dezembro de 2014, é retirado do poema da página 16: «A pedra que foi coração / É agora corpo parado / Do esquecimento / Com a textura da cinza. / Quando brilha seduz / Mas nunca se deixa encontrar, / Perde a força, falha / Na ternura. A pedra / Não pode ser coração.»
Uma das abordagens possíveis a este livro pode ser feita pelos números. A edição é de cem exemplares. Tanto o poeta como o editor terão percebido que Portugal é um país de analfabetos e quase ninguém lê poesia. Falar de Bocage pelas anedotas, de Bulhão Pato pela gastronomia e de Camões pelo olho perdido em combate é o que nos espera num país que não lê os seus poetas embora proclame, numa abjecta «frase feita» que Portugal é um país de poetas.
O ponto de partida pode ser o tempo: «Tudo quanto começa / Nunca acaba. Não é / Da memória que falo, / Antes da sensação / Física de um coração / A bater diante de ti». O ponto de chegada pode ser a alegria: «Quase eternos, vamos seguindo a luz / Tomando na mão a firmeza da vida, rasto de memória / A construir o fôlego da alegria.» Pelo meio fica a Poesia como lugar de dupla inscrição entre Natureza e Cultura: «A poesia. A vontade de ternura, um / Caderno onde encostar a cabeça.»

Editora: do lado esquerdo.

(Um livro por semana 579)

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