quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Do comboio de Falconwood ao comboio de Rio Maior


O meu neto Thomas está um homenzinho. Entrou para uma «Grammar School» em Londres e lá vai todos os dias com gravata e blazer no comboio que em sete minutos o leva para a Escola. Os sete minutos são os mesmos que me levam todos os dias ao Rossio. Gosto muito de todos os meus netos (são quatro) mas o mais velho é especial por ter sido o primeiro a nascer (2006) e por ser protagonista de um dos mas veementes poemas que escrevi - «Domingo à tarde em Falconwood». Pois a memória magoada desse domingo à tarde no jardim junto aos comboios de Falconwood com o seu arraial de exclusão, de maldade e de estupidez («sumos de pacote e bolos de fábrica») levou-me a recordar a Feira de Rio Maior. Além dos cabos de cebolas de Alvorninha, havia uma corrida de bicicletas com os homens da Volta a Portugal. Na curva da estrada colocavam fardos de palha. Ainda me lembro dos agentes da P.V.T. e das suas ruidosas máquinas. Outra máquina era o comboio que me lembro de ter visto em Rio Maior. Era uma locomotiva adaptada à via reduzida. Eu sentia-me excluído da Feira de Rio Maior porque quando queria alguma coisa a resposta era sempre a mesma: «Tu não tens querer!» Muitos anos depois em Falconwwod o meu neto Thomas foi excluído não de uma festa de aniversário (estavam no seu direito) mas do convívio com os seus amigos de rua e de escola que estavam a poucos centímetros do nosso banco de jardim. Há uma música triste comum às duas exclusões como se o comboio trouxesse na sua via reduzida a redução da vida ao rancor, à maldade e à estupidez. Ou seja à exclusão. Os meus avós podem ter a desculpa do tempo cinzento («Está tudo bem assim e não podia ser de outra forma») mas as mães de Falconwood não podem ter perdão. O meu neto Thomas vai estudar numa escola onde os filhos delas nunca vão entrar.     

(Crónicas do Tejo 94 – fotografia de autor desconhecido)


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