Carlos
Querido (n.1956) regressa ao micro-conto depois do anterior «Insanus» de 2017. O título do conjunto de 33 contos é
tirado do texto da página 93 cuja origem vem da velha lei britânica «habeas
corpus ad subjiciendum» que dá a garantia de liberdade do indivíduo perante a
possibilidade de uma detenção arbitrária. Em termos simples permite agudar
julgamento em liberdade. No micro-conto em causa, o conflito surge entre a
família do protagonista (Zé Manel) e os amigos «das farras, do futebol e dos
poemas». Enquanto os primeiros desejam um enterramento convencional, os
segundos fazem uma cremação e para isso levam o corpo e no seu lugar deixam
sacos de areia. De um lado o tio padre comandando as operações; do outro os
amigos que realiza, a cremação entre whisky e poemas de Ruy Belo e Garcia
Montero.
Num
dos micro-contos (página 31) pode ler-se «Tão insondáveis como o universo só os
enigmas da alma» e é mesmo de enigmas da alma que trata este livro com várias
referências a poemas da Garcia Montero, Ruy Belo, Inês Lourenço ou Ricardo Reis
(Fernando Pessoa) além de outras figuras das artes e das letras como Carl Jung,
Beethoven, Mozart, Agata Christie ou Gustave Flaubert. Essa ligação à Poesia
surge na página 13 de modo mais explícito em «O poema do búzio»: «Vem isto a
propósito dum poema sobre um búzio que num dia incerto ofereci a uma rapariga
que venho a descobrir que era minha mãe.»
Completa
este belo volume de 136 páginas um conjunto de dez fotos de Sal Nunkachov.
(Editora:
Abysmo, Capa: Sal Nunkachov, Revisão: Noémia Machado)
[Um livro por semana 638]
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