sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

«Deuses menores e espíritos do lugar» de Aurélio Lopes


Aurélio Lopes (n.1954) estreou-se nas publicações desta área temática em 1995 com «Religião Popular no Ribatejo». Este recente livro de 183 páginas está organizado em quatro capítulos: O Santo e a Imagem, o Santo e o Lugar, o Santo e a Festa e o Santo e a Promessa.
Na página 139 cita-se um texto de Lourenço Fontes em 1992: «Não é diretamente Deus quem o povo procura; vai ao santo. Nem é o padroeiro, é o taumaturgo; nem é a igreja paroquial, é a capela, a ermida, o santuário; onde é mais fácil a religião popular. Onde, até, não há um padre a controlar, a proibir ou vigiar a fé.»
No final a página 183 o autor resume: «São os santos, hoje como ontem, símbolos e protetores de povos e lugares. Corporizados na sua «imagem», nesta se projetam enquanto foco energético e devocional; numa simbiose, algo indistinta, entre representação e representado. «Imagens» que o povo encara como se dos próprios santos se tratasse. Santos/«Imagens»; optando por aquela comunidade e só por aquela. Em inequívocas e taumatúrgicas opções de pertença. Expressos em lendários míticos que descrevem as sempre milagrosas aparições e remontam (ou fazem remontar) à génese da igreja e da povoação. À semelhança de princípios totémicos servem, assim, de pais e antepassados das populações. Intermediários por definição. Focos de poder por vocação. Nos quais as comunidades se revêem e compreendem. E aos quais apelam e prometem em situações de vulnerabilidade individual e colectiva. Santos que embora vistos em termos populares como dotados de um poder intrínseco, não deixam de ser, em termos conceptuais, intermediários entre a Terra e o Céu.»

(Editora: Apenas Livros, Revisão: Luís Filipe Coelho)

[Um livro por semana 637]


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