sexta-feira, 14 de julho de 2017

O jornalismo ou carta aberta a Gonçalo Pereira Rosa


Os jornais e as revistas foram a Universidade que não tive. E também foram o meu Liceu. Nasci em 1951 e em 1957 uma senhora muito fina no Montijo afirmou mais ou menos isto à porta de uma pastelaria famosa: «Os filhos dos motoristas não vão para o Liceu!». E eu era filho de um motorista; por isso não fui para o Liceu. Naquele tempo o Liceu mais perto do Montijo era o de Setúbal e os rapazes iam de comboio até ao Pinhal Novo e aí apanhavam outro comboio para Setúbal onde estava o poder político e também o poder cultural. A «Gazeta do Sul» no Montijo que eu via ser feito nas Oficinas Gráficas ainda a chumbo e a edição mensal (feita em Rio Maior) de «O Catarinense» que a minha mãe guardava numa caixa de sapatos juntamente com o semanário «Sporting» que eu lia em primeira mão antes do jornal chegar à assinante Dona Teresa, são o princípio de tudo.
Conheci o Gonçalo Pereira Rosa porque fui redactor do jornal «Sporting» de 1988 a 2006 e estreei-me em 1978 no «Diário Popular» mas vamos por partes. Cheguei aos dez anos com a biografia já definida: iria estudar numa Escola Técnica (nunca num Liceu) e iria trabalhar aos quinze anos. Quase não tive férias em 1966 no Verão em Santa Catarina: um telegrama de Secretaria chamou-me para ir trabalhar na Rua do Ouro nº 110, a sede do Banco Português do Atlântico. Antes desse deslumbramento em 1966 dos Suplementos Literários com o «Diário de Lisboa», o «Diário Popular», o «República» e a «Capital» (a partir de 1969) eu vivi em Vila Franca de Xira e ia todos os Domingos à noite comprar o «Diário Popular» por duas razões: o futebol à tarde e a crónica de Santos Fernando. Hoje continuo a pensar como pensava nesse tempo que «Os grilos não cantam ao Domingo».            

(Vinte Linhas 1693)

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