Os jornais e as
revistas foram a Universidade que não tive. E também foram o meu Liceu. Nasci
em 1951 e em 1957 uma senhora muito fina no Montijo afirmou mais ou menos isto
à porta de uma pastelaria famosa: «Os filhos dos motoristas não vão para o
Liceu!». E eu era filho de um motorista; por isso não fui para o Liceu. Naquele
tempo o Liceu mais perto do Montijo era o de Setúbal e os rapazes iam de
comboio até ao Pinhal Novo e aí apanhavam outro comboio para Setúbal onde
estava o poder político e também o poder cultural. A «Gazeta do Sul» no Montijo
que eu via ser feito nas Oficinas Gráficas ainda a chumbo e a edição mensal
(feita em Rio Maior) de «O Catarinense» que a minha mãe guardava numa caixa de
sapatos juntamente com o semanário «Sporting» que eu lia em primeira mão antes
do jornal chegar à assinante Dona Teresa, são o princípio de tudo.
Conheci o Gonçalo
Pereira Rosa porque fui redactor do jornal «Sporting» de 1988 a 2006 e
estreei-me em 1978 no «Diário Popular» mas vamos por partes. Cheguei aos dez
anos com a biografia já definida: iria estudar numa Escola Técnica (nunca num
Liceu) e iria trabalhar aos quinze anos. Quase não tive férias em 1966 no Verão
em Santa Catarina: um telegrama de Secretaria chamou-me para ir trabalhar na
Rua do Ouro nº 110, a sede do Banco Português do Atlântico. Antes desse
deslumbramento em 1966 dos Suplementos Literários com o «Diário de Lisboa», o «Diário
Popular», o «República» e a «Capital» (a partir de 1969) eu vivi em Vila Franca
de Xira e ia todos os Domingos à noite comprar o «Diário Popular» por duas
razões: o futebol à tarde e a crónica de Santos Fernando. Hoje continuo a
pensar como pensava nesse tempo que «Os grilos não cantam ao Domingo».
(Vinte Linhas 1693)
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