Neste seu décimo livro, Manuel
Barata (n.1952) começa por uma advertência («Nunca cedas à vaidade»), continua
com uma reflexão («É o tempo /o inexorável tempo/ que atenua a mágoa/e
mostra/quão profundas/eram as raízes») sobre a Vida e também sobre a Dor: «O
tempo somente mitiga a dor/(À ausência chamamos saudade)/mas as cicatrizes
ficam e moem./É certo que não matam; todavia,/ roubam o colorido às nossas
vidas.»
O percurso deste livro tem
origem na Mata («A minha aldeia será sempre a minha aldeia/ e nenhuma outra a
poderá substituir»), passa por Nambuangongo, Cabo Verde, Lisboa, Castelo Branco
(e outros lugares) e termina em Santa Iria da Azóia: «Tudo gastámos, amada,/tão
perdulariamente!/ e só temos p´ra nos dar/este silêncio gélido.» A geografia do
volume tem duas referências; a mãe do poeta (Maria Cesaltina) e a esposa
(Zélia) mas não se esgota no território dos afectos. Antes se prolonga por um
espaço («Eram os livros») cuja origem está em Gutenberg: «Homem/de
imaginação/sonhou /a tipografia/e ousou/um novo milagre/da multiplicação./
Outro peixe/outro pão!»
Fernão Lopes, Gil Vicente e
Luís de Camões são os primeiros três escritores que «fogem das leis da morte» e
fazem companhia ao autor na sua biblioteca. Deste século, entre outros, António
Salvado, Luís Miguel Nava e Isabel Mendes Ferreira: «Todas as misérias do mundo
lhe doem/e delas fala e escreve com amável sabedoria./Caminhar na vertical tem
um preço/e de olhos abertos um preço ainda maior.»
Edição: Câmara Municipal de
Castelo Branco, Design; Paulo Veiga, Colecção: Alvores)
[Livros e Autores 17]
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