Neste trabalho de «Ler e depois» como lhe chamou o ensaísta Óscar Lopes, recebo livros desde Agosto de 1978 quando comecei no «Diário Popular». Estes anos passaram num instante Um dos mais recentes livros que me chegou às mãos foi «Poemas para acabar com a violência doméstica» de Anne Quetzal, edição da Rosmaninho-Editora de Arte de Santarém. O título precipita em mim uma dissertação que engloba a chamada violência contra idosos – a que eu conheço melhor. Um certo jornalismo de castanholas e pandeiretas usa e abusa na Imprensa, na Rádio e na TV da expressão «violência doméstica» aplicada apenas e só a um dos lados da questão como se só existisse agressão da parte do homem contra a mulher ou do jovem contra o mais velho. No caso da chamada violência contra o idoso quero lembrar dois factos do meu conhecimento. Uma senhora de Penedono desloca-se com frequência com a filha e o marido para tratar de análises no Centro de Saúde onde a filha vive. Faz força e finca-pé para levar com ela uma galinha dizendo que «Os ovos do supermercado não prestam e só como ovos da minha galinha!» Claro que os tapetes do automóvel são obrigatoriamente lavados pois o cheiro e a porcaria são insuportáveis. Outro caso é o de um idoso que durante quatro anos recebeu a visita de um dos três filhos todas as segundas feiras para almoçar com ele. A recepção era invariavelmente esta: «Nunca esperei ser tão desprezado!» Com algum esforço se chega à ideia de que ele referia os outros filhos que estavam a trabalhar em Lisboa e não podiam deslocar-se numa segunda-feira de manhã. Conclusão provisória: a violência existe mas tem um sentido muito diferente do que as pandeiretas e as castanholas teimam em afirmar.
[Crónicas do Tejo 296]
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