Passaram
já trinta e quatro anos mas tudo permanece igual no recreio da ADECO com as
paredes caiadas e os pneus dos meninos em sossego mas por pouco tempo. As
buganvílias de Marta são uma afirmação do calendário; o seu esplendor está no coração
do mês de Maio prestes a despedir-se do Mundo entre o Dia da Mãe e as primeiras
cerejas tão vermelhas como as flores. Aqui, no recanto do recreio dos meninos,
só os pneus podem dialogar com a exuberante beleza das buganvílias. Com uma
diferença: os pneus precisam de perícia, de velocidade e de destreza mas as
flores não precisam de nada; elas já são só por si o maior valor acrescentado à
luz da manhã no Jardim Infantil.
Na grande seara de lágrimas e de sangue pisado, de saudade e de distância, as buganvílias de Marta na ADECO são mais que uma imagem e uma memória, são o adubo da nova sementeira que todos os anos se repete no pátio onde os meninos velozes correm ao lado dos velhos pneus. Depois do frio e da chuva no Inverno vem o Sol e o calor da Primavera. Como se fosse também um relógio, o tempo dá a sua luz ao esplendor das buganvílias. É assim como a Música, uma melodia com princípio, meio e fim mas que, mesmo depois do último acorde, não se perde mesmo quando se deixa de ouvir. E continua a cantar, como se fosse um leve sussurro, no coração de cada um de nós. (escrito sobre uma foto de Ana Isabel)
[Crónicas
do Tejo 286]
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