Partindo de «O todo ou o seu nada» de
Amadeu Lopes Sabino (Editora Bizâncio) cheguei a este livro é de 1953; conta a
história da viagem do cargueiro «Mello» que uma explosão inexplicável consumiu
em fogo nas águas sombrias do mar. O livro (Coimbra Editora) é dedicado à
memória dos companheiros do autor que encontraram a morte no incêndio do
cargueiro português a meio de uma viagem entre Buenos Aires e Lisboa: Álvaro Firmo
da Silva, Alberto dos Santos Faria, Álvaro de Almeida Costa, Henrique Torcato
Craveiro, Luís Alexandre Júnior, João da Silva Moreira, José Pereira, Herculano
José, Joaquim Marques Machado, António Varela, José Simões, António Pais,
Joaquim da Silva Pracana, José de Sousa Frade e José Fernandes d´Assunção. Há
uma cantiga na página 28: «As ondas do mar são brancas / E no meio amarelas /
Pobrezinho de quem nasce / Para morrer no meio delas» mas as primeiras linhas
do romance são uma bela crónica de despedida: «Um primeiro puxão fez estremecer
o «Mello», negro, sujo de carvão. Em movimentos descompassados, os rebocadores
arrastam o corpo inerte e bojudo do navio, da beira do cais. Içada a escada do
portaló, desligados os cabos que eram nervos que o faziam ser terra, prático na
ponte, mansamente, em estremecimento de quem deseja maior pressa, o seu corpo é
levado para o meio da doca. A ponte de Alcântara que fecha a saída, começa a
girar numa permissão de passagem solicitada pelo som cavo do apito. Barcos pequenos
saúdam com um zumbido quase imperceptível e seguem apressados o seu caminho na
água suja da doca. AS chaminés dos rebocadores vomitam fumo negro, espesso,
quase sólido. Sentado numa pedra do cais, um pescador solitário tira o chapéu
encardido, num mudo desejo de boa viagem.» (fim de citação)
[Crónicas do Tejo 163]
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