Manuel Barata (n.1952) publica
regularmente desde 2003 («Quadras quase populares») sendo este o seu sétimo
livro. Não surpreende que um dos poemas deste livro se intitule «Teoria da
quadra» e conclua: «Uma quadra popular /não, não é arte menor;/engana-se quem
achar/que é uma coisa sem valor. /Quando feita com talento /a quadra pode
captar/a beleza dum momento/ perfeitamente invulgar.»
Os poemas do livro oscilam entre o «eu» e
o «nós», entre o privado e o público, entre o particular e o geral. O poeta
fala de si para falar dos outros e dos outros para falar de si. A quadra da
página 28 recorda: «Na Beira Baixa nasci/numa paisagem tão dura! /Das muitas
outras que vi, /quero esta despida e pura.» Na página 45 podemos ler sobre
Salgueiro Maia: «Naquela manhã de Abril/ Maia, o nosso anti-herói/pôs fim a um
regime vil/chaga velha que inda dói/ Valente e determinado/ e apoiado pelo
povo/Maia, homem indomado/fez cair o Estado Novo.» E na página 47 sobre Yasser
Arafat: «Nas ruínas da Mukataa/ - o seu quartel-general - /em campa muito
pacata/jaz um mito universal. /Muitas vezes foi vencido/Mas nunca foi
derrotado/Do seu povo era querido/pelo mundo respeitado./Era o homem do
turbante /por Israel combatido /Físico insignificante? /Sim, mas forte e
decidido. / Combatente de primeira /contudo sempre acossado /Era o mastro e a
bandeira /da Nação-futuro-Estado.»
Mas a quadra pode ser também um lema de
vida como na página 49: «Não queiras hoje acabar/um trabalho, uma obra./ Podes
muito trabalhar/que o trabalho sempre sobra./Eu sei de fonte segura/que o
trabalho não tem fim/Com pressa nada perdura;/ faz com calma…Vai por mim!/
Guarda algo para amanhã/faz com jeito, devagar/ ninguém faz depressa e bem /diz
o saber popular.»
(Capa: Hugo Rios, Foto da contracapa: José
Manuel Teixeira)
[Um
livro por semana 689]